09 dezembro 2016

Desabafo…

A numismática brasileira não está preparada para publicações de textos, pesquisas ou artigos que questionem certos dogmas estabelecidos por editores de catálogos, comerciantes, e algumas pessoas que se (auto) arvoram como “grandes” ou “importantes”, mas cujo conhecimento técnico sobre aquilo que colecionam é praticamente zero. Não procuram saber o que é correto, e não vão aceitar que alguém novo lhes digam. Trata-se de gente ignorante da pior espécie.

São muitos comerciantes para poucos colecionadores. O mero comércio fala muito mais alto do que a pesquisa e o colecionismo, e a cultura e o conhecimento tem sido postos de lado em favor da ganância e da especulação. Claro que todos nós gostamos de dinheiro e bons lucros, mas quem busca para si algo tão supérfluo quanto a numismática, é porque está em busca de algo mais, ou seja, de cultura e uma fonte de conhecimento. E esta parte – a principal, ao meu ver – simplesmente NÃO EXISTE no Brasil!

Um dos fatores que impedem que o conhecimento numismático seja difundido no Brasil são os altíssimos valores pedidos por livros sobre moedas brasileiras. Os preços são absurdos e irreais. Na obra do Lupercio, p.ex., pedem R$ 2500. Outra obra sobre 960 Réis, outro valor absurdo, inalcançável para a imensa maioria, e escrita em inglês. No Brasil, muitos mal sabem português! Logo, ao invés de democratizar, isto faz com que se elitize o conhecimento para uns poucos “iluminados”, os mesmos velhacos de sempre. É o caminho contrário ao que tomam as numismáticas americana e europeia.

Graças a ignorância e falta de conhecimento geral, aberrações como anomalias comuns, de cunho marcado, são catalogadas por mero desconhecimento, e cotadas e vendidas a valores surreais, e ainda há idiotas que pensam que tal coisa tem valor só porque está porcamente publicado e cotado em um livro qualquer. Alguns (não todos) comerciantes, igualmente membros da patota, e igualmente ignorantes, as anunciam como “raridades” e os colecionadores seguem o que está escrito bovinamente, sem questionar nada.

Isso não é ciência numismática.

Por fim, estou na numismática para aprender, ter uma nova fonte de conhecimento para mim, e não para ensinar gratuitamente a uma legião de semi-analfabetos funcionais, servir como catálogo ambulante online pra perguntas cretinas de “quanto vale”, e ainda por cima ser destratado por isso.

Havia muitíssimas coisas a serem escritas, como p.ex. sobre as moedas do Cruzeiro «Mapa Duplo», sobre as quais fiz algumas descobertas interessantes ao estudar seus cunhos, e sobre variantes de cunhos nas moedas do Plano Real, cujo estudo venho fazendo há vários meses. Além do mais estava redigindo uma obra completa, a ser distribuída gratuitamente em .pdf, sobre anomalias nas moedas nacionais.

Todos estes estudos já estavam semi-organizados, quase prontos para serem publicados aqui neste blog.

Mas, pra quê? É perda de tempo...

O processo de lobotomização e analfabetismo funcional no Brasil está em estágio bastante avançado. Na numismática brasileira, os tais colecionadores não sabem sequer a diferença entre anomalia e variante. Pior ainda, leigos confundem qualquer disquinho metálico com “moeda”. Além do mais, uma pessoa que passou pelo processo de desmoralização estudantil impetrada por professores esquerdistas é incapaz de acessar informação verdadeira, pois os fatos não lhe dizem nada. Mesmo se eu mostrar a informação verdadeira aqui no blog, com grande evidência, prova documental, fotos, fontes primárias confiáveis, tais como livros escritos por membros ilustres e acreditados por sociedades nacionais do exterior, mesmo que eu o fizesse à força, elas irão se recusar a acreditar, até o momento em que comecem a desanimar e a vender sua coleção. Quando oferecerem um ínfimo valor por suas “bobos triplos”, aí sim, entenderão!

As pessoas que comandam os negócios na numismática não têm a cabeça na cultura, só no dinheiro. Só importa o negócio. Se vendessem bananas não seriam diferentes.

Eu não sinto a mais remota vontade em me associar a nenhuma sociedade numismatica do Brasil. Pra quê? Pra receber uns poucos boletins por ano e ter o ''direito'' de participar de alguma eventual VSO (Venda sob Oferta)? Participar da patota, da panelinha? Ter um suposto status? Inclusive já sei de antemão que em algumas delas, não sou bem vindo, principalmente em uma famosa lá do sul do Brasil. Nunca me fez ou fará falta, igualmente.

O ambiente numismático brasileiro não é saudável. É repleto de vagabundos, espertalhões, gente metida e ignorante. Velhos escrotos, que pararam no tempo, e que não aceitam opiniões diferentes, mesmo que embasadas. É exatamente o oposto do ambiente filatélico, que é repleto de pessoas cultas, educadas, e com real interesse na cultura.

Não tenho o mais remoto interesse em participar de um ambiente que comporta escumalhas de tal baixíssimo nível cultural e até educacional. Criaturas que, estando no comando de Sociedades Numismáticas, as utiliza como verdadeiras bancas pra desovar suas peças “FC” (mas que mal passam como MBC). Gente que não aceita sequer uma simples opinião diferente ou que as contrarie, mesmo que estejamos certos. Gente que não acrescenta NADA à cultura e o desenvolvimento da numismática nacional. É SÓ COMÉRCIO. Estes são verdadeiros dinossauros, gente que parou no tempo. O odor de chorume emanado se sente à distância! Não quero ter o desprazer de encontrar com esses lixos ambulantes nos encontros numismáticos Brasil afora.

Portanto, Não, obrigado.

Os textos que preciso para me instruir sobre numismática, pesquiso na net, temos o Dr. Google pra isso, e nele descobro o que quero, além do que compro livros antigos no Estante Virtual, faço meus próprios estudos e pesquisas, e para comprar moedas, tem até o eBay pra isso. Nunca dependi de nenhum desses comerciantes escrotos pra isso, e inclusive encontrei no exterior peças em Estados de Conservação MUITO superiores aos oferecidos por tais criaturas e por valores mais baixos, mesmo com frete internacional. Peças sem marcas de dedos, com 100% do brilho original da cunhagem e sem sinais de limpeza.

Se pelo menos eu visse alguma dessas sociedades soltando uma mínima nota de repúdio pra emissoras de TV que fazem matérias dizendo que moedas olímpicas valem 100 reais cada, ou seja, o mínimo possível que se pede de órgãos que representem uma classe... Mas nem isso. É só mero comércio e encontros de comerciantes, e por isso os grupos nas redes sociais estão repletos de ignorantes. No exterior as coisas são MUITO diferentes.

Logo, pra mim não acrescenta nada, pelo contrário: Se fosse me associar a alguma Sociedade Numismática no Brasil, eu é quem teria a acrescentar conhecimento a esse pessoal, e ainda por cima, pagando por isso. E como eu coleciono as coisas justamente porque busco conhecimento pra mim...

Além do mais, já dizia a Bíblia:

“Não dêem o que é sagrado aos cães, nem atirem suas pérolas aos porcos; caso contrário, estes as pisarão e, aqueles, voltando-se contra vocês, os despedaçarão.” (Mateus 7:6)

Numismática além de ciência, é um hobby, e como tal, deve ser prazeiroso. Se não for, não faz sentido. E pra mim já não é mais, virou sinônimo de dor de cabeça gratuita.

Vida que segue.

30 novembro 2016

Atualização de Dezembro 2016 para as Tiragens do Banco Central

5 Centavos 2016: de 71.168.000 para 93.184.000
10 Centavos 2016: de 110.400.000 para 175.296.000
50 Centavos 2016: de 74.816.000 para 106.512.000

12 novembro 2016

Falsificações da Moeda 1 Real 2012 «Entrega da Bandeira Olímpica» para enganar colecionadores

Relatos nos grupos de numismática das redes sociais estão dando por conta do surgimento de sachês de moedas FALSIFICADAS (para enganar colecionadores) da Entrega da Bandeira Olímpica 2012 nos estados de São Paulo (Praça da República) e Rio de Janeiro. Quem viu as falsas, nos relata que as moedas tem boa qualidade, mesmo tamanho e espessura, e mínima diferença de peso, e com a diferença que possuem a data de 2014, e que o falsário possui centenas de peças à venda por valores muito abaixo do praticado no mercado.

Apesar do alto valor de coleção, a moeda da entrega da Bandeira Olímpica continua sendo uma moeda de 1 Real de uso corrente do atual meio circulante nacional. Falsificar ou vender falsas configura crime federal. A alta especulação nos preços aliada a uma ganância desmedida faz com que as pessoas fabriquem falsas e as vendam aos colecionadores.

Não deixem isso passar batido, amigos, é crime federal (Artigo 289 do Código Penal) além de ser uma tremenda sacanagem com os colecionadores. Se souberem quem está fazendo isso, não deixem de denunciar pessoalmente esses vagabundos pra Polícia Federal, cadeia neles! Esse tipo de canalha é como um câncer, tem que ser extirpado da numismática.

Não se trata aqui de criminosos comuns que estão tentando fraudar a fazenda e o erário público. Os que falsificam moeda da Bandeira Olímpica, são comerciantes numismáticos com intuito de enganar os colecionadores. É gente do ramo, que reconhecem falsas à distância, que sabem exatamente o que estão fazendo, e merecem ir pra trás das grades.

Vamos ficar de olho também na moeda do Cinquentenário dos Direitos Humanos, que é outra com alta probabilidade de aparecerem falsificações.


CP - Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940

Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no estrangeiro:

Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa.

§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na circulação moeda falsa.

§ 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui à circulação, depois de conhecer a falsidade, é punido com detenção, de seis meses a dois anos, e multa.



Olhem bem suas moedas. Pesem com balança digital de 2 casas decimais e meçam com paquimetro. Observem os detalhes da gravura e da cunhagem. Veja se a data 2012 confere.

Se desconfiar que é falsa, vá à superintendência da Polícia Federal com a peça e faça a denúncia. Vamos por esses safados na cadeia! Não deixem de denunciar os canalhas na Superintendência da Polícia Federal!

09 novembro 2016

Atualização de Novembro 2016 para as Tiragens do Banco Central

5 Centavos 2016: de 5.376.000 para 71.168.000

10 Centavos 2016: de 30.144.000 para 110.400.000

Apareceu a tiragem de 50 Centavos 2016: 74.816.000

Pelo visto, temos somente moedas comuns e de alta tiragem com data 2016. Seguem as tiragens completas do Plano Real:

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07 novembro 2016

1 Real 1997 «Bromélia»

Aqueles que não conhecem esta peça, antes de mais nada, leia estes três artigos:

Link 1: http://ppbalsemao.blogspot.com.br/2012/03/replica-do-real-1997.html

Link 2: https://colecaosfm.wordpress.com/2015/06/13/a-bromelia-ou-real-balsemao/

Link 3: https://colecaosfm.wordpress.com/2015/06/21/os-reais-da-bromelia/

A peça acima surgiu primeiramente nas mãos de P. P. Balsemão, que, conforme relata em seu blog, foi recebida de troco por um caixa de uma banca do Mercado Público de Porto Alegre e foi comunicada pelo mesmo no XV Congresso de Numismática da Sociedade Numismática Brasileira.

Muita dúvida surgiu no meio numismático, com debates acalorados, já que a peça surgiu exatamente nas mãos de um numismata que é proprietário de uma metalúrgica, e além do mais é um gravador, que confecciona réplicas (devidamente identificadas como tais) de moedas clássicas. Por conta disso, passou a ser chamada por seus detratores, de modo a reduzir a peça a um mero disco metálico sem valor, e atacar a reputação pessoal, de «1 Real Balsemão».

Antes de mais nada, vamos à definição:

ENSAIOS: Testes de desenho, material, cor, tamanho... Quando escolhem qual modelo será definitivo, criam as PROVAS. Isto ocorre na numismática, na notafilia e também na filatelia. Assim sendo, a «Bromélia» seria um ENSAIO, já que não possui o mesmo design da peça de 1 Real que foi posta em circulação.

Os ENSAIOS sequer deveriam vir à luz, devendo ser descaracterizados ou destruídos tão logo os testes internos de produção sejam concluídos, porém é fato na numismática mundial que uma ou outra peça acaba escapando para as mãos dos colecionadores.

Vamos aos dados que possuímos sobre a referida peça:

O numismata Sérgio Mendes escreveu ao Banco Central inquirindo sobre a peça, e recebeu a seguinte resposta deste órgão:

Prezado senhor

Em atenção a sua demanda, registrada sob protocolo e-SIC 99916.000007/2015-61, temos a esclarecer: A Casa da Moeda informou que cunhou peças contendo a imagem de uma bromélia em um dos lados, a título de teste de materiais e processos, para a fabricação da moeda de R$ 1 da Segunda Família de moedas.


Esta resposta do Banco Central é um DOCUMENTO OFICIAL EMITIDO POR ÓRGÃO ESTATAL, e, através do número do Protocolo, pode ser solicitado que seja impressa em papel timbrado, e faz cair por terra qualquer argumento de que a referida peça foi criada pelo sr. Balsemão. Logo, não só não foi negada a existência da peça, como além disso, foi confirmada ter sido cunhada na Casa da Moeda, e até dito para que fins a «Bromélia» foi criada: Teste de materiais e processos para a fabricação da moeda de R$ 1 da Segunda Família. O que faz sentido, já que o Brasil até então não havia feito cunhagem de moedas bimetálicas.

Em segundo lugar, temos no site do Worldwide Bi-Metallic Collectors Club o relato, realizado no longínquo ano de 1999, sobre a existência de uma peça «Brazil 1997 1 Real Test Bi-Metallic».

Além do mais, temos o seguinte relato do numismata  Leandro Tavares em e-mail a Balsemão:

Prezado Sr. Balsemão,

Tenho 38 anos, sou numismata desde os 8 anos e tenho 2 coleções de moedas. Coleciono 1 moeda de cada país/estado/província pós-1900 e moedas de grandes personagens da História. Tenho ainda várias moedas bimetálicas que comecei a colecionar no meio dos anos 90 e das quais não me desfiz completamente, mas também não me interessei em aumentar a coleção.

Na época em que comecei a colecionar as bimetálicas, tornei-me membro do WBCC, o World Bimetallic Coins Collectors Club (http://www.wbcc-online.com/). Em 1999 vi no site deles uma imagem de um desenho em preto e branco com a imagem da moeda que o senhor possui: o 1 real de 1997. Tentei entrar em contato com a CMB e cheguei a escrever para o presidente Fernando Henrique Cardoso e para o presidente da CMB que era o Tarcísio Jorge Caldas Pereira para tentar saber mais informações ou como adquirir esta moeda, mas infelizmente, o descaso com a numismática nacional já era total naquela época e não consegui nem uma coisa nem outra. O interessante é que o Caldas Pereira escreveu que, por se tratar de um teste, não era permitida a venda destas moedas. Ou seja, ele não negou em nenhum momento a existência das mesmas. A imagem que estava no site (acabei de entrar no site do WBCC e não está mais lá) era descrita na legenda como um teste relatado na edição de novembro de 1998 da versão norte-americana do periódico World Coins News. (Acho que é da Editora Krause)

Esta descrição ainda está na internet e pode ser vista neste link, no item 5: http://wbcc-online.com/newsmail/news143.txt (Curiosamente, tem uma nota escrita por mim bem baixo desta informação).

Conversando depois com mais algumas pessoas, me disseram que esta moeda foi cunhada no Canadá para testar as prensas com que seriam produzidas as moedas de 1 real 1998 e que todas deveriam ter sido destruídas, mas que, como sempre, e o senhor tem a prova disso aí na sua coleção, “uma ou outra sempre escapa”... Não vou afirmar com certeza, mas acho que quem me disse isso foi o Sr. Antonio Lima de São Paulo. Na época eu conversava bastante com ele. Cheguei a falar também com o Sr. Francisco Partos, de Porto Alegre, mas não me lembro se foi sobre esta moeda ou aquela dos 10 centavos com o D. Pedro levantando o braço esquerdo. Seja como for, sempre acreditei na existência dessas duas peças e fiquei até emocionado quando recebi neste mês o boletim 76 da AFNB com o seu artigo. Pode ficar tranqüilo, mesmo que nenhuma autoridade confirme, sua peça é 100% legítima.

Caso o senhor queira tentar descobrir mais, pode entrar em contato com quem escreveu esta nota no boletim da WBCC, o Martin Peeters, fundador do site. O e-mail dele é WBCC@hotmail.nl

Se eu puder ajudar de mais alguma maneira, é só entrar em contato. Parabéns pela sua peça.

Cordialmente,

Leandro Tavares

Campinas/SP

AFNB SC-1237

leandro.tavares@uol.com.br

 

Isto nos diz que a peça já havia sido vista em 1999, fazendo cair por terra novamente a tese de que foi criada por Balsemão.

Temos ainda, o sr. Emerson Pippi, membro de destaque da Sociedade Numismática Paranaense, que entrevistou a sra. Glória Dias, funcionária da Casa da Moeda, texto publicado no Boletim da SNP e o qual reproduzimos abaixo:


OS SEGREDOS DA BROMÉLIA

Por Emerson Pippi

Um dos mistérios mais empolgantes e discutidos da numismática brasileira volta à tona com inéditas revelações da artista plástica Gloria Dias, que participou da equipe de design do famoso Real Balsemão. A peça, que intrigou muitos especialistas e colocou em cheque a reputação de um ilustre gravador brasileiro, realmente foi feita na Casa da Moeda do Brasil (CMB) e é um teste de material do que viria a ser uma das moedas da segunda família do Real, lançada em 1998.

Quem afirma é a co-autora dos projetos da nova família do Real, Gloria Dias, atualmente Assessora Técnica do Gabinete da Presidência da Casa da Moeda do Brasil. A designer, medalhista e moedeira é também criadora dos desenhos de recentes moedas comemorativas brasileiras, como as dos 40 e 50 anos do Bacen e a do Centenário de Belo Horizonte.

Nesta entrevista, Glória confirma que é uma peça feita na CMB e dá um sensacional e detalhado relato sobre a moeda.“Não imaginávamos o sucesso que essa peça teste faria, pois era para sido devolvida à CMB para descaracterização. Foi feita para testar ajustes e melhorias para aumento de ductibilidade”, diz.

Entenda a polêmica

Em 2011, o gaúcho Pedro Balsemão anunciou ter encontrado uma raridade até então desconhecida do meio numismático. Uma moeda de 1 real bimetálica datada em 1997, completamente diferente das circulantes. No reverso está a figura de uma bromélia, sobreposta pela inscrição 1 Real. No anverso,conhecida imagem da efígie da república, idêntica à que esteve presente em moedas de Cruzeiro entre 1967 e 1978.

Apresentada em congresso da SNB, a moeda dividiu as opiniões de especialistas. A tese de que realmente era um ensaio desconhecido fabricado pela CMB foi defendida de maneira ferrenha por Balsemão. Por outro lado, uma vertente importante de numismatas via com incredulidade a recente descoberta. Havia até mesmo quem suspeitasseque a moeda foi feita pelo próprio gaúcho, ilustre escultor de cunhos, medalheiro e fabricante de réplicas perfeitas de moedas raras.A Casa da Moeda nunca admitiu oficialmente que aquela peça havia saído das suas fábricas.

“Sofri muito com desconfianças de próprios colegas numismatas. Pessoas tratavam o assunto com ironia e risadinhas disfarçadas”, diz Balsemão.

Também surgiu a vertente de numismatas que acreditavam ser a bromélia uma ficha que seria usada exclusivamente em vending machines, essas máquinas que vendem refrigerantes, doces e até flores. A teoria deles era que, em virtude da futura substituição do padrão das moedas, a CMB criou fichas de fantasia para testes e enviou aos fabricantes das máquinas. Essa afirmação mudava completamente o status do achado de Balsemão. De inédito ensaio de moeda, passava a ser um simples token.

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Confira alguns trechos da entrevista esclarecedora de Gloria Dias, que conta a história da criação do Real Balsemão:

Gloria, como surgiu a ideia dessa moeda da bromélia, hoje conhecida como Real Balsemão?

“Essas peças foram confeccionadas exclusivamente para testes, já com as características de material das moedas que seriam lançadas. Ela foi feita para testar ajustes e melhorias para aumento de ductibilidade. Não usamos as matrizes da moeda de 1 Real que seria válida, exatamente para não corrermos o risco de criarmos uma raridade. Não imaginávamos o sucesso que essa peça teste faria, pois era para ter sido devolvida à CMB para descaracterização.”

Como você ficou sabendo do vazamento?

“Encaminhamos algumas peças para apreciação e testes e o trabalho seguiu adiante. Houve um momento, anos após as remessas, que a moeda teste surgiu em publicações especializadas. Muitos colecionadores, ao mesmo tempo em que queriam saber tudo a seu respeito, fantasiaram histórias sobre a criação dela. Mas a verdade é que foi um teste para otimização do nosso processo fabril.”

E por que foi datada em 1997?

“A concepção artística e técnica de uma nova série de moedas de circulação se dá muito tempo antes de sua emissão e distribuição. São muitos os estudos e testes para garantir a melhor performance nas máquinas de industrialização. É o tipo de produto que precisa responder bem aos quesitos de altíssima e acelerada produção.”

E por que não se usou nesses testes o mesmo desenho das moedas que seriam lançadas?

“Uma moeda é um produto de alta segurança e nem todos os testes ocorrem em ambiente “oficial”. Por isso, a melhor maneira é não contar com a arte válida, mas sim com uma que simule perfeitamente os volumes da gravura original. Esse foi o caso da bromélia. Não podíamos arriscar o vazamento do layout artístico da moeda. E, visto que essas peças teste vazaram misteriosamente, fica implicitamente reforçada essa orientação.”

Essa moeda seria então utilizada para testes de material em geral, não somente para vending machines?

“A peça da bromélia foi criada para amplos testes que serviriam para definições de especificações do produto “moeda de circulação bimetálica, taxa de 1 Real”. Teste em vendingmachines é apenas mais uma entre tantas características para quais a moeda deve estar apta.”

E por que escolheu o desenho da bromélia?

“Ouso de figuras históricas poderia suscitar elucubrações várias sobre tendências políticas, mesmo sendo uma peça teste. Se vazasse, o que acabou acontecendo, poderia haver questionamento do tipo: Porque um homem? Porque um militar? Porque um artista? Um músico de esquerda? Um esportista? Com tanto cientista importante, porque esse?Como era um simples teste, não valeria a pena se preocupar com essas coisas. A bromélia já nasceu politicamente correta. Afinal, quem é contra as bromélias?”

E a efígie da república? Ela já havia sido usada em moedas dos anos 1970. Qual o motivo de usá-la novamente?

“Essa efígie era unanimidade entre todos os artistas da época como a mais bela de todas. A obra é do gravador numismata MestreBenedicto Ribeiro, admirado por toda equipe. O perfil que inspirou ele foi o da jovem e belíssima atriz Tonia Carrero.”

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Em tempos de delação premiada, nós que fomos premiados com os relatos da artista. O depoimento de Gloria, apesar de ser testemunhal e não documental, encerra a maioria das dúvidas que cercavam o Real Balsemão.

A moeda foi feita nas oficinas da CMB e se trata de teste de material, não sendo um ensaio de layout. A moeda é original, mesmo não sendo oficial.

Emerson Pippi - SNP

 

Pois bem! Agora temos um relato de um funcionário da Casa da Moeda do Brasil confirmando que a peça foi de fato cunhada neste órgão estatal, e detalhando seus propósitos de existência. Atenção especial ao trecho: «Essas peças foram confeccionadas exclusivamente para testes, já com as características de material das moedas que seriam lançadas».

Isto por sí só é a própria definição de um ENSAIO NUMISMÁTICO, já que é pra exatamente este fim que os mesmos são criados: Testes! E das mais diferentes naturezas.

A peça consta atualmente – e corretamente, ao meu ver – catalogada no «Livro das Moedas do Brasil», de Irley Neves e Claudio Amato, na seção de Provas e Ensaios, como fazendo parte da coleção numismática brasileira.

No catálogo Bentes, não consta, e o autor justifica a não inclusão desta peça por acreditar que se trata de um mero token ou ficha metálica, ou – palavras do mesmo – fichas de vending machines – máquinas de refrigerante e afins. A sua justificativa e explanações podem ser lidas clicando aqui. (Faça uma pausa na leitura deste artigo, e leia a justificativa dada pela empresa Bentes).

Bentes recentemente publicou nas redes sociais esta justificativa, a qual gerou um frutífero debate com diversos nomes de peso da numismática nacional envolvidos. No entanto, ao somente receber opiniões contrárias às suas, simplesmente apagou toda a postagem, num ato que gerou dúvidas sobre a real capacidade desta empresa em promover o saudável debate e a ciência numismática, e publicou sua única opinião em forma de texto em seu blog (link acima), o qual é fechado para comentários. Isto não é debate numismático, não é ciência, e sim, tentativa (frustrada) de impor uma única opinião.

Para Bentes, o relato dos criadores da «Bromélia» é simplesmente ignorado, sendo levado em consideração em seu lugar, a “perícia” realizada por seus “peritos juramentados”, que não sabemos quem são, e que dizem que a «Bromélia» é uma mera ficha de vending machine, o que foi claramente desmentido pela própria co-autora da peça, sra. Gloria Dias, na entrevista dada ao sr. Emerson Pippi e pelo e-mail enviado pelo sr. Sergio Mendes ao Banco Central.

À empresa Bentes foram feitas algumas perguntas, às quais não obtivemos as respostas, somente a censura de termos nossas perguntas e dúvidas sumariamente apagadas, vindas de alguém extremamente arrogante e que não aceita questionamentos, dúvidas ou opiniões contrárias às suas, mesmo que sejam embasadas com fatos comprobatórios.

Então postamo-las aqui:

1 – Qual a fonte desta afirmação de que a «Bromélia» seria um mero token ou ficha de vending machine? Quem são os “peritos juramentados” que deram tal afirmação, e baseados em quê?

2 – Se são fichas de vending machines, porque a própria criadora das mesmas assim como o Banco Central diz que são peças criadas para testes da Segunda Família do Plano Real (que entraria em circulação no ano seguinte, ou seja, 1998)?

3 – Se são fichas de vending machines, porque possuem o valor facial de 1 Real estampado, ao contrário das milhares de modelos diferentes de fichas disponíveis no mercado?

4 – Se são fichas de vending machines, porque teriam sido feitas com tal design, inclusive utilizando a Efígie da República utilizada em cunhagens de sistemas monetários anteriores, de modo a confundir a população com as moedas da segunda família do Real que viriam a circular no ano seguinte?

5 – As fichas de vending machines que temos em mãos são produzidas por indústrias metalúrgicas particulares, tais como a famosa EBERLE e outras. Pergunta: A Casa da Moeda do Brasil produz fichas de vending machines?

6 – Se são fichas de vending machines, porque existem em diversos tamanhos, já que tais máquinas só aceitam fichas de um mesmo determinado diâmetro e espessura?

7 – Se são fichas de vending machines, porque existem nos mesmos diâmetros e materiais das atuais moedas do Plano Real segunda família, inclusive com peças bimetálicas e eletrorrevestidas de Cobre e Bronze-Alumínio Fosfórico?

8 – Se são fichas de vending machines, porque não está escrito nas peças para que fim se destinam, como em toda ficha (p.ex., “vale 1 coca-cola”, etc)?

 

 

Em todo seu texto, a empresa Bentes ignora o fato de que não existe somente a peça bimetálica da «Bromélia», e sim uma série completa, nos mesmos diâmetros e materiais da segunda família do Plano Real. Isto por si só faz cair por terra a tese absurda de “fichas de máquina de refrigerante”. Ignora também o relato do Banco Central e também dos funcionários co-autores das peças. A única opinião relevante é a sua própria, e a de seus “peritos juramentados” sem nome e sem rosto.

Além do mais, a empresa Bentes exige um “documento comprobatório” em papel timbrado, assinado por alguém em cargo de chefia na CMB, com estampilhas fiscais, que informe sobre estas peças. Compreendemos este cuidado, no entanto, o relato dos próprios criadores das peças são um “documento comprobatório”, assim como o e-mail com número de Protocolo recebido pelo numismata Sérgio Mendes, e ambos documentos possuem validade jurídica, e além do mais, os relatantes e seus criadores e órgãos estatais não arriscariam suas reputações por conta desta simples peça.

Finalmente, deixo aqui a minha opinião pessoal sobre as peças da «Bromélia»: São ENSAIOS para testes das moedas de circulação da segunda família do Plano Real, como dito pelos próprios criadores e pelo órgão estatal, (afirmação esta que não possuo a menor condição de contestar, pois contra fatos não existem argumentos). São peças que deveriam ter sido destruídas após os testes, mas que, de alguma forma, escaparam. Possuem extrema raridade, do mais alto nível, e FAZEM PARTE da coleção numismática brasileira, em sua categoria de Ensaios. Sua catalogação na obra «Livro das Moedas do Brasil», de Irley Neves e Claudio Amato, é e está correta.


Em tempo: Existe no mercado disponíveis para venda exemplares com a inscrição «Copy» ao lado da data 1997. (vide imagem acima). Estas peças são meras réplicas criadas especialmente para o mercado numismático, devem ser tratadas como tais e não possuem valor numismático. Estas sim, são meras “fichas” ou “tokens”.

 

Atualização em 08 Novembro 2016

O sr. Leandro Tavares, no e-mail enviado ao sr. Balsemão, cuja íntegra está acima, menciona o seguinte:

(…) Em 1999 vi no site deles uma imagem de um desenho em preto e branco com a imagem da moeda que o senhor possui: o 1 real de 1997. (…)

Por um lapso meu, esqueci de colocar este IMPORTANTÍSSIMO LINK nesta postagem, que mostra a tal imagem da Bromélia em preto e branco que é mencionada ter sido vista ainda em 1999.

Aqui está o link a que o sr. Tavares se refere: http://www.wbcc-online.com/ctrys-b/braz-camb.html e abaixo, reproduzimos a imagem:

Cabe ressaltar que no mesmo link há ainda imagens de outros ensaios para a moeda de 1 Real, alguns inclusive totalmente desconhecidos e que não possuímos informação alguma.

26 outubro 2016

Quanto Vale a minha Coleção?

Uma dúvida comum que sempre surge entre os colecionadores é justamente esta. Será que, caso algum dia resolva vender meu acervo acumulado cuidadosamente por anos, eu recupere ao menos o valor gasto? Ou, quem sabe, tenha até mesmo lucro?

Isto depende de diversos fatores:

A cultura do país onde se está montando seu acervo é um fator muito importante. Para citar um exemplo: Cartas e envelopes circulados com selos da França ou Inglaterra do período 1850-1870 são vendidas no mercado por valores que oscilam entre € 2 a € 5 cada. Existem aos milhares. Já um envelope com selos do Brasil do mesmo período são absolutamente caros e inalcançáveis para a maioria dos colecionadores, e isto se explica pelo fato de que na Europa, as correspondências eram guardadas, como arquivos familiares. Já no Brasil, e em outros países do terceiro mundo, a missiva era posta ao lixo tão logo fosse lida, ou atirada fora em um “bota-fora” de papéis velhos sem serventia.

Carta circulada para a cidade de Hull, Inglaterra, com selo «Penny Red» emitido em 1841
O terceiro selo postal emitido pela Inglaterra e também no mundo! Catálogo Michel #3.
Valor de mercado de uma peça destas, com 175 anos de idade? R$ 40 (quarenta reais).
Gostou desta peça? Eu te vendo por este valor, e tenho várias outras ainda mais baratas, basta entrar em contato.


Um outro exemplo: Moedas com a anomalia “mula”, como o último caso conhecido no Brasil («50 Centavos sem o zero»). Tal anomalia em qualquer moeda dos Estados Unidos, teria valor na casa dos 5 a 6 dígitos. No Brasil, é vendida por poucos trocados, por não haver forte procura pela peça, e principalmente por haver um completo desconhecimento e entendimento do que vem a ser tal peça.

Também não é a “antiguidade” que define. Papiros egípcios legítimos do tempo dos faraós, Moedas romanas com 2 mil anos de idade, ou 960 Réis do Brasil em prata e com 200 anos de idade podem ser compradas no mercado por poucos trocados. Já uma moeda cunhada recentemente, pode ser muito mais valiosa, mesmo sendo relativamente comuns e fáceis de encontrar, justamente por haver forte procura e pouca oferta (p. ex., 10 Centavos 1999 Flor de Cunho, 1 Real Entrega da Bandeira Olímpica, etc).

A qualidade da coleção também é um fator importante. Selos modernos, somente tem valor de mercado se novos com goma. Moedas modernas, salvo poucas exceções, somente flor de cunho. Cédulas, igualmente impecáveis, sem dobras, sujeira, rasuras ou manchas, tal como saíram do banco.

É comum pensar que as peças possuem “alto valor histórico” por conterem sinais do tempo e de manuseio, sujeira, amassados, manchas, etc, mas este é um argumento que o mercado simplesmente não aceita. Você pode até preferir na sua coleção ter selos carimbados ou moedas sujas, ensebadas e circuladas, cédulas rasgadas e mofadas. Mas, saiba que este é um casamento! Se pensar em vender depois, a procura será baixa, e dificilmente recuperará o valor investido.

Mas o fator mais importante de todos, ao meu ver, é: AQUILO que se coleciona, ou seja, objeto da sua coleção, pois é o determinante principal da procura e da oferta. Por exemplo, moedas de Ouro. Na pior e mais terrível das hipóteses, recupera-se parte do valor investido vendendo a peso, em joalharias. Por outro lado, você pode ter um magnífico acervo de documentos com assinatura de alguma importante figura do passado, mas se somente você ou algumas pouquíssimas pessoas igualmente de gosto exótico também colecionarem ou tiverem interesse nestes itens, prepare-se para ouvir propostas de aquisição de sua peças a valores extremamente baixos, senão ofensivos aos ouvidos, valores geralmente bem abaixo do que foi pago inicialmente. Sua peça pode ser inclusive única e insubstituível. Mas se praticamente ninguém se interessa por elas, o valor venal com certeza é muito baixo e não adianta espernear por isso. Logo, por mais que se goste das peças, por mais importância histórica que tenham, o mercado é cruel, e o mesmo não atribui cotações a valores sentimentais, e sim, à procura e à oferta.

Por isto, para evitar prejuízos ou aborrecimentos futuros, deve-se ler o máximo que puder sobre os objetos que compõem seu acervo, e especialmente ficar atento para o mercado que há para suas peças e qual a procura e oferta que há pelas mesmas.

Deixe um comentário abaixo.

22 outubro 2016

Moeda «5 Centavos 1990 Pescador»

 


Antes de mais nada:
Não é 5 Centavos 1989 e não é 5 Cruzeiros 1990. Estas duas últimas são vendidas a 20 reais O QUILO. Confundir estas moedas é o mesmo que não saber o quê se está colecionando. Embora os colecionadores tentem encontrá-la no meio das comuns, em “garimpagens”, nunca irão achar. As que estão no mercado são mistérios de nossa numismática.

Essa moeda é do padrão monetário CRUZADO NOVO. Nesse padrão são apenas DEZ moedas cunhadas, sendo uma delas em prata. Não é Cruzados, e não é Cruzeiros. Quando foi lançada, o novo Presidente da República, Fernando Collor, assumiu o poder e mudou o padrão monetário pra CRUZEIROS logo no primeiro dia de mandato! Por isso essa moeda nem chegou a circular, e é um mistério como algumas conseguiram escapar à fundição em alguma siderúrgica. Assistam ao vídeo:

 

 

Empossado numa quinta-feira, 15 de Março de 1990, Fernando Collor anunciou seu plano econômico no dia seguinte à posse, ou seja, logo no primeiro dia de governo: Anunciou o retorno do Cruzeiro como unidade monetária em substituição ao Cruzado Novo, vigente desde 15 de janeiro de 1989 quando houve o último choque econômico patrocinado por seu antecessor José Sarney.

O Cruzeiro voltaria a circular em 19 de março de 1990 em sua terceira (e última) incursão como moeda corrente nacional, à razão de NCz$ 1,00 = Cr$ 1,00 (1 Cruzado Novo = 1 Cruzeiro, só mudou o nome da moeda novamente, pela terceira vez na história, pra Cruzeiros), até ser substituída pelo Cruzeiro Real em 1993. Logo, a cobiçada moeda 5 Centavos de Cruzados Novos 1990, fabricada em fevereiro, sequer teve tempo hábil pra se fazer circular.

Uma curiosidade: TODAS as moedas 5 CENTAVOS 1990 possuem um ponto na data entre o segundo 9 e o 0, ficando 199.0 na data.

Dito isto, é preciso afirmar: Sempre que alguém põe um exemplar dessa moeda à venda, a diversão é garantida: As pessoas dão a clara impressão de não saberem sequer o que colecionam. O analfabetismo funcional é gritante e fica muito evidente em muitos. Ninguém lê os catálogos! Só vêem preços! De fato, sempre que vemos esta moeda à venda com algum comerciante, aparecem várias pessoas questionando o elevado preço, e afirmando que possuem ou possuíam “kilos” da mesma em casa e afirmando ser uma moeda muito comum, na óbvia confusão com as extremamente comuns 5 Centavos 1989 e 5 Cruzeiros 1990. Há inclusive aqueles que a confundem com a 10 Cruzeiros 1991, que é muito diferente inclusive no diâmetro.

 

 

Nota importante: Não se trata de uma moeda “rara” como inseri na imagem. Claro que não considero esta moeda como sendo "rara", e sim no máximo como escassa ou difícil. Raras são cunhagens abaixo de 100 exemplares. Coloquei "Rara" apenas pra exemplificar a diferença entre as comuns 5 Centavos 1989 e 5 Cruzeiros 1990.

A tiragem, já baixa, de 934.000 exemplares cunhados oficialmente, não chegou a ser inserida no mercado, sendo destruída antes da distribuição aos bancos. Nenhuma foi posta em circulação, pois fabricadas no final de Fevereiro de 1990, em Março mudou-se o Governo, mudou-se o sistema monetário de Cruzado Novo pra Cruzeiro, e a inflação “comeu” o valor, já baixo, dessa peça. Na prática, quando iam ser distribuídas, seriam necessárias centenas delas pra se comprar uma balinha ou pirulito no mercado. Resultado: Fundição em siderúrgica. Nenhum exemplar deveria ter escapado a este destino, mas... algumas estão por aí.

Logo, quantidade de emissão é uma coisa. Colocação em circulação é outra. O mesmo fenômeno ocorreu com a cédula da Baiana, onde a quantidade de emissão é alta, mas o que efetivamente circulou foi pouco e por isto é uma peça escassa e valorizada.

Não é uma moeda difícil de se encontrar nas Casas Numismáticas, com comerciantes independentes, etc, mas os preços são incrivelmente altos, variando entre R$ 150 e R$ 250. O que se observa, na realidade, é uma supervalorização diante de uma demanda que cai nas mãos de comerciantes que procuram exorbitantes lucros. Esse fenômeno é um câncer da numismática, que se espalha quando os comerciantes mais honestos passam a adotar os mesmos preços ao observar que podem potencializar seu lucro. Esse problema também é agravado pela escassez relativa, isto é, diante de uma cunhagem alta de outros anos, do mesmo valor facial e até mesmo de outras moedas, é difícil encontrar essa peça em grandes lotes. Esse fenômeno é o mesmo visto em peças como 1 Real 1998 Direitos Humanos, 1 Real 2012 Bandeira Olímpica, 1 Centavo 1990, dentre outras.

Mas… Se a moeda de 5 Centavos de Cruzados Novos foi retirada antes mesmo de se fazer circular, devido à inflação tê-la desvalorizado ao pó, porque o mesmo não foi feito com a moeda de 1 Centavo de Cruzado Novo, que valia cinco vezes menos?

1 Centavo de Cruzado Novo:
em 1989 são 208.100.000
em 1990 são apenas 1.000.000

Deveria pela lógica ser escassa como a 5 Centavos de Cruzados Novos 1990 e igualmente recolhida. Mas não é, e circulou. Foi criada em 1989 pra substituir a moeda de Cz$ 10 (Dez Cruzados) que passaram a corresponder a NCz$ 0,01 (Um Centavo de Cruzado Novo). É o chamado "Plano Verão".
.
A resposta é: O CENTAVO como unidade monetária não foi abolido quando a moeda voltou a ser chamar CRUZEIROS, e isto está na LEI Nº 8.024, DE 12 DE ABRIL DE 1990, onde temos:

Art. 1º Passa a denominar-se cruzeiro a moeda nacional, configurando a unidade do sistema monetário brasileiro.
.
§ 1º Fica mantido o centavo para designar a centésima parte da nova moeda.

§ 2º O cruzeiro corresponde a um cruzado novo.

Portanto, o CENTAVO era obrigação legal, e por isso foi mantido e posto em circulação, mesmo sem nenhum poder de compra. Já a 5 Centavos, que estava em circulação, com data 1989, foi recolhida, e a já produzida mas não distribuída 1990, sequer chegou a circular.

Explicação dada, deixem seus comentários!

 

Atualização em 24 Junho ‘2020:

Este artigo foi reproduzido no site «Numismática Castro» em 1 Fevereiro ‘2018.
Link: https://numismaticos.com.br/o-importante-nao-e-o-peixo-e-o-pescador/

19 outubro 2016

Métodos de Cunhagem Ordinária, «Brilliant Uncirculated», e «Proof»

Uma dúvida relativamente comum que tem surgido ultimamente:

Qual a diferença entre a cunhagem Ordinária, Brilliant Uncirculated e Proof?

Veja o vídeo abaixo (em inglês), produzido pela Royal Mint, a Casa da Moeda da Grã-Bretanha, e no qual também é possível visualizar um pouco a fabricação dos cunhos para cada método de cunhagem:



Para ilustrar os três principais métodos de cunhagem utilizados no Brasil, me servirei da emissão «Entrega da Bandeira Olímpica», de 2012. Assim sendo, temos:


CUNHAGEM ORDINÁRIA:
Método pelo qual são cunhadas as moedas para circulação comum, em todo o mundo. O cunho e os discos não são polidos. No caso das atuais moedas do Plano Real, a máquinha de cunhagem produz 700 moedas por minuto. Costumam vir, no Brasil, em sachês com dezenas de unidades. Em outros países, as moedas vem acondicionadas em rolos. Leves arranhões ou pequenas marcas de batidas são admitidos. É possível encontrar moedas com defeitos, ou anômalas.


CUNHAGEM BRILLIANT UNCIRCULATED: O cunho recebe polimento, e as moedas são cunhadas na taxa de 1 moeda por segundo, aproximadamente. Isto as torna mais brilhantes que as de cunhagem ordinária, e com detalhes da gravação mais nítidos que no método de cunhagem ordinária. É utilizado para sets anuais e conjuntos especiais para colecionadores. Um exemplo recente, são as moedas das modalidades olímpicas em blisters ou cartelas.


CUNHAGEM PROOF: O acabamento é da mais alta qualidade. O cunho, totalmente polido até se tornar espelhado, bate até 6 vezes em cada disco, tornando detalhes intrincados do design absolutamente nítidos, e o campo liso das moedas, completamente espelhado. Cada disco é cuidadosamente inserido e recolhido manualmente na máquina de cunhagem, com utilização de luvas e recebe uma limpeza com ar comprimido antes da cunhagem, para eliminar quaisquer vestígios de sujeira ou poeira. A taxa de produção é de aproximadamente 50 moedas por hora. Cada moeda, após a cunhagem, é analisada individualmente e as defeituosas são descartadas. É utilizado para moedas de coleção, geralmente em metal precioso (Ouro ou Prata). Costumam vir em estojos ou caixas de relativo luxo.


Uma observação importante: Moedas com cunhagem Brilliant Uncirculated, e principalmente, Proof, não devem jamais ter as faces tocadas com as mãos nuas, sob pena de marcar a moeda irremediavelmente com impressões digitais. Mesmo o mais macio dos panos, como os de microfibra para limpeza de lentes de óculos, as arranham. Recomenda-se enfaticamente jamais abrir as cápsulas que as protegem. Esta recomendação também é válida para moedas com cunhagem ordinária. O ideal é não tocar em moeda alguma com as mãos nuas, utilize luvas!

Qualquer dúvida não deixe de comentar!

16 outubro 2016

A Antiga Máquina de Cunhagem «Schuler»



No vídeo abaixo, a partir de 18m20s, é possível ver a antiga máquina de cunhagem SCHULER, importada da Alemanha Nacional-Socialista em 1937, e que é a responsável pela cunhagem das moedas brasileiras durante o período 1937-1973.



O vídeo em seu todo é muito instrutivo e recomendo que seja assistido na íntegra.

A máquina SCHULER cunhava 110 moedas por minuto (contra 700 das máquinas atuais), e hoje se encontra no Museu de Valores do Banco Central do Brasil, em Brasília-DF, ainda em funcionamento, cunhando medalhas de souvenir das visitas ao Museu.


As medalhinhas-souvenir existem nas versões em Aço Inox e em Bronze-Alumínio.

15 outubro 2016

Moeda «50 Centavos sem o Zero»

Cortesia da imagem: Warley Soares

Esta moeda deveria constar no artigo anterior sobre «Anomalias em Moedas», no entanto achei melhor redigir um artigo específico por ser necessário explicar muitos detalhes.

A moeda: Trata-se de um grave erro de fabricação da Casa da Moeda do Brasil, no qual, segundo informações obtidas pela imprensa, um funcionário inseriu equivocadamente um cunho de anverso da moeda de 5 Centavos 2012 na máquina de cunhagem da moeda de 50 Centavos.

Como em todo desastre de grandes proporções, não temos apenas um único erro, e sim vários erros em cadeia. Logo, temos também grave falha no Controle de Qualidade, Produção e Distribuição não só da Casa da Moeda, mas também do Banco Central e dos bancos brasileiros que receberam os sachês com moedas e distribuem o troco para a população.

Foram cunhadas aproximadamente 40.000 moedas com tal anomalia, o equivalente a 2 horas de produção. Tal erro foi OFICIALMENTE reconhecido e documentado pelo Banco Central (clique para ver o texto) e aparentemente circulou somente na cidade do Rio de Janeiro-RJ. Imediatamente após a descoberta, já em circulação entre a população, o Banco Central informou que estas moedas não teriam curso legal, e seriam recolhidas, podendo ser trocadas em qualquer agência bancária pelo valor de 50 Centavos, sem prazo de troca. Não é possível estipular a quantidade exata de moedas cunhadas (estranho que a Casa da Moeda não saiba exatamente quantas unidades produz…), tampouco temos a informação de quantas foram recolhidas.

Algumas peças, claro, escaparam para o mercado numismático, e os valores subiram às alturas, especialmente por se tratar de uma novidade e haver forte procura.

Vamos então a parte técnica sobre a moeda anômala verdadeira:

A moeda é exatamente IGUAL em diâmetro, espessura e peso que as moedas comuns de 50 Centavos. Sua data deve ser, obrigatoriamente, a de 2012. Seu disco possui a inscrição «Ordem e Progresso ☆ Brasil ☆» na orla, que pode estar para cima ou para baixo, como em qualquer moeda comum de 50 Centavos. O reverso é o da moeda de 50 Centavos, e ilustra normalmente o Barão do Rio Branco. Somente o seu anverso é que possui a diferença, onde foi batido o cunho de 5 Centavos 2012, ao invés do cunho de 50 Centavos 2012.

Além do mais, por ter tido pouca circulação, é preferível que ainda apresente boa parte, senão toda, de seu brilho de cunhagem original.

Por ser um erro de cunhagem gravíssimo, com documentação oficial do Banco Central admitindo sua existência e principalmente, CIRCULAÇÃO, que é o mais importante de tudo, tal peça deve, em minha humilde e sincera opinião, obrigatoriamente constar nos tal peça deve, obrigatoriamente constar nos Anais Numismáticos brasileiros.

Quanto a valores de cotação e mercado, não sendo esta minha área de atuação na numismática, não emitirei opinião a não ser que estes devem ser regidos pela Lei da Procura e Oferta.

Falsificações: Com os preços nas alturas e muita especulação e pouca disponibilidade, aliadas à falta de conhecimento, as falsificadas – para enganar colecionadores incautos –  começaram a surgir no mercado. Algumas razoavelmente bem feitas, outras nem tanto.



Vimos os seguintes casos de falsificadas óbvias:

- Reverso da moeda de 5 Centavos, com a efígie do Tiradentes.
- Data “2013”, e ainda por cima, em alto relevo, quando a original é “2012” e em baixo relevo.

Há ainda alguns casos relatados nas redes sociais onde uma moeda de 50 Centavos original é escavada no anverso com ferramentas elétricas de oficina (Broca Forstner?), em seguida inserem uma moeda de 5 Centavos 2012 no buraco formado, e em seguida soldam, lixam e dão banho de Níquel em toda a peça. Mas tudo facilmente identificável, caso a peça seja observada e analisada com cuidado e atenção, com auxílio de uma lupa, em seus mínimos detalhes.

Um outro fator de identificação, porém mais avançado, é o fato conhecido por numismatas experientes, de que cada cunho de cada moeda do Plano Real em cada ano possui ligeiras diferenças de design. Portanto, o cunho da moeda original deve ser, necessariamente, o cunho da moeda de 5 Centavos 2012. Caso seja identificado o design de cunho de 5 Centavos de qualquer outra data, a peça é, com 100% de certeza, falsificada, pois nas suas curtas duas horas de produção, seus cunhos não foram trocados (se o tivessem feito, teriam percebido o erro ainda na Casa da Moeda, e a produção teria sido descartada, jamais chegando nas mãos da população).


Falemos então sobre a questão técnica e sua definição:

Trata-se de uma anomalia do mais alto nível possível, de extrema gravidade, da mais alta raridade, muito valorizada em qualquer peça de qualquer local do mundo, chamado MULA.

MULA (Mule Coin): Também chamada de “Moeda Híbrida” no Brasil. Moeda cunhada cujos anverso e reverso não correspondem ao que foi originalmente projetado para a peça. Ou seja: Uma troca de cunhos, que podem ser intencionais, por boa ou má fé, ou – caso da nossa “50 Centavos 2012 sem o zero” – produzidas por um grave erro de funcionários que confundiram e instalaram os cunhos errados na máquina de cunhagem. São peças muito procuradas, e os exemplares costumam alcançar valores elevados no mercado.

O colecionador de moedas anômalas Celso Suzuki, no Boletim #51 da AFNS, artigo «Anomalias e Variantes», página 16, define da seguinte maneira resumida:

«HÍBRIDA: Moeda que apresenta anverso ou reverso diferente do que originalmente estabelecido».

As primeiras Mulas são encontradas entre antigas moedas Gregas e Romanas. A opinião é dividida entre aqueles que seguem a tese de que são acidentais, como resultado de uma combinação incorreta de matrizes de cunho que foram retiradas de uso, ou o trabalho de cunhadores que utilizam cunhos roubados de uma Casa da Moeda, quando os mesmos deveriam ter sido inutilizados ou destruídos.

A nomenclatura, MULE, utilizada internacionalmente por numismatas de todo o mundo, deriva do animal mula, a descendência híbrida entre um cavalo e um burro, devido que a moeda possui dois lados destinados a moedas diferentes, tanto quanto uma mula possui pais de duas espécies diferentes.

Existem diversos exemplos recentes de MOEDAS MULAS na numismática mundial. Cito alguns exemplos:

Em Março 2014, a Royal Mint da Grã-Bretanha confirmou a existência de um par mula em duas moedas de Prata .999 de £ 2 comemorativas, produzidas em Dezembro 2013. As matrizes incompatíveis foram utilizadas em 17.000 moedas «Britannia» e 38.000 moedas do «Ano Lunar do Cavalo».

Neste caso, a mula foi produzida através da combinação acidental das matrizes.

As moedas mulas do «Ano Lunar do Cavalo» e «Britannia». O anverso de ambas as moedas apresenta a Rainha Elisabeth II.
A versão com “denteação” nas bordas deveria estar na moeda «Britannia», e a versão com bordo liso, para a «Ano Lunar do Cavalo».


Em 1967, a Nova Zelândia emitiu uma moeda de 2 Cents, com anverso da moeda de 5 Cents das Bahamas.

À esquerda, a peça original. À direita, a moeda mula.


Exemplos subsequentes na Nova Zelândia incluem ainda a moeda 5 cents 1981 com reverso de 10 cents do Canadá, e também 50 cents com $1 canadense, ambos extremamente raros.

Uma das mais famosas moedas mula dos últimos tempos, vem dos Estados Unidos, e é o «Sacagawea Dollar/Washington Quarter», caracterizado por um anverso de uma moeda Washington Quarter, e reverso da Moeda $1 Sacagawea. Inicialmente foi pensado que a moeda foi intencionalmente cunhada por um empregado mal intencionado da US Mint, no entanto após uma perícia, foi confirmado em Julho 2000 ser um erro legítimo, criado pela substituição acidental de um cunho rachado do Sacagawea por um de anverso de Washington Quarter. Vários milhares de moedas foram relatados como cunhadas antes que o erro fosse descoberto, e os empregados da US Mint os recuperou e destruiu a maior parte deles.

Em Abril 2013, tornam publicamente conhecidas 10 peças sobreviventes, que foram certificadas, graduadas e encapsuladas. Uma das peças, NGC MS-67, foi vendida na reunião da American Numismatic Association na Filadélfia, em Agosto 2012, por US$ 155.250. Mais informação aqui.

$1 Sacagawea Dollar, comum

A Raríssima moeda mula «Sacagawea Dollar/Washington Quarter»


No Brasil a famosa «50 Centavos sem o zero» não é o caso único. Não é único nem mesmo no atual sistema monetário, o Plano Real: Temos conhecimento de algumas peças de 5 Centavos 1994 que possui o reverso da moeda 1 Centavo 1994.  Alguns colecionadores e vendedores a chamam de “5 Centavos cabecinha”.

Ao contrário da «50 Centavos sem o zero», esta é praticamente desconhecida entre a maioria dos numismatas. Estão até hoje, 22 anos após a emissão, em circulação pelo Brasil afora, mas podem passar desapercebidas por ambas serem moedas muito pequenas e a diferença da moeda comum para a moeda mula não ser de tão fácil percepção à primeira vista. Basta perceber que a cabeça da Efígie da República é ligeiramente menor do que deveria ser numa moeda comum de 5 Centavos da 1ª Família, dando a impressão de um início de cunhagem descentrada no reverso. Quem sabe você não encontre uma após ler este artigo? Fique de olho no troco do pão!

A peça abaixo está a venda no site da Filatélica Zeppelin (clique para acessar).


Cabe ressaltar, de forma enfática, que as moedas mulas podem ser facilmente confundidas por colecionadores menos experientes com um outro erro, também de alta gravidade, porém muito menos incomum, e que, aqui no Brasil, ocorreu principalmente com Cruzeiros dos anos 1970’s e sendo facilmente encontrada no comércio numismático, o qual apresentamos a seguir:


CUNHAGEM EM DISCO INAPROPRIADO (Struck on Wrong Planchet): Também chamado no Brasil entre alguns colecionadores de “Disco Impróprio”, “Disco Menor”, entre outras nomenclaturas. Ocorre quando uma máquina de cunhagem que está cunhando uma determinada moeda é alimentada com discos em branco de outra denominação. O resultado da produção é uma moeda cunhada com um desenho que seria para um disco de tamanho diferente. Este tipo de erro, quando identificado, é capturado durante o processo de fabricação e destruído.

Exemplos:


Moeda de 10 Centavos 1977 cunhada no disco menor, original para 5 Centavos.



Moeda de 50 Centavos 1970 cunhada no disco menor, original para 20 Centavos.


Portanto, anote:

A diferença principal entre MULA e DISCO INAPROPRIADO:

- Na MULA, um ou ambos os cunhos foram trocados de forma equivocada.

- No DISCO INAPROPRIADO, a máquina foi alimentada com discos de outra denominação.


Pode ainda ocorrer confusões com o seguinte erro:

DUPLA DENOMINAÇÃO (Double Denomination): Moedas prontas que foram cunhadas uma segunda vez, em uma máquina de denominação diferente da original. São identificáveis por ainda apresentarem detalhes do design da moeda anteriormente cunhada, o que possibilita identificar qual foi a primeira cunhagem. Podem ser propositais ou não. Mais raros ainda, denominações batidas em um disco já cunhado de alguma moeda estrangeira. Numismática Bentes (clique no link para obter explicações detalhadas) nos contempla com a visão de uma destas peças de seu acervo, um 80 Réis de Cobre do Império do Brasil recunhado sobre «One Large Cent» dos Estados Unidos:

Observação: Este erro não deve ser confundido com RECUNHOS OFICIAIS nos quais o governo de um país compra estoque de moedas de outra nação com o fim exclusivo de cunhar sua denominação sobre a moeda estrangeira, tal como ocorre com as moedas da Colônia do Brasil em Prata de 960 Réis (Patacões), recunhados sobre moedas de diversas origens.

Torço para que o artigo tenha sido redigido de forma clara e que todos tenham compreendido bem.

Caso tenha alguma dúvida, não hesite em deixar um comentário!

14 outubro 2016

Limpeza de Moedas

Antes de tudo: A moeda é sua, e você faz o que quiser.

Inclusive, é por sua conta e risco.

Quem nunca limpou uma moedinha que atire a primeira pedra. Creio que muitos fizeram isto no começo de suas coleções, inclusive arruinando para sempre algumas peças. Eu fiz isto. Você com certeza também fez. No começo achávamos as pátinas feias, e hoje procuramos por elas. Não é assim? A medida que o tempo foi passando, foi-se aprendendo mais sobre a Numismática, e as coisas mudaram, certo? Ou não?

Temos coletado nas redes sociais, blogs, websites de casas numismáticas e até no site do Banco Central informações acerca da melhor maneira de se limpar moedas.

A quantidade de diferentes materiais e receitas mencionadas por leigos e até mesmo por colecionadores experientes, e até mesmo em catálogos, e em diversos locais é assustadora e dá a impressão de estarmos lidando não com numismatas, mas sim com nutricionistas, cozinheiros, químicos, ou quiçá, alquimistas em busca da Pedra Filosofal. Não custa dizer que muitos desses produtos são altamente tóxicos e perigosos à saúde. Mas vejamos uma pequena, - e não completa, embora exaustiva – amostra do que recolhi:

Catchup, Molho de Pimenta Gota, Mostarda, Vinagre, Molho Barbecue, Querosene, Jato de Areia, Thinner, Lixa d’Água, Azeite, Óleo de Côco, Óleo de Amêndoas Doces, Óleo Diesel, Acetona 100% Pura, Pasta de Dentes, Água com Sal, Água com Açúcar, Água Destilada, Água Oxigenada, Água de Bateria, Banho-Maria, Soda Cáustica, Palha de Aço, Escova de Dentes, Massa de Polir, Escova de Latão, Polidor de Jóias Silvo/Brasso, Polidor Automotivo Grand Prix, Limpol Limpa Inox, Cera para Pisos, Solução de Amônia, Limão, Detergente de cozinha, Pasta de Sabão de Côco, Pinho Bril, Eletrólise, Borracha, Spray WD 40, Coca-Cola, Descarbonizante Spray Car 80, Limpador de Jóias Monzi, Flanela de Polimento, Álcool Isopropílico, Álcool de Cereais, Kaol, Carbonato de Sódio, Bicarbonato de Sódio, Trissulfato de Sódio, Cromato de Sódio, Ácido Nítrico, Vaselina Líquida, Sal de Frutas ENO, Detertec 7, Grafite em Pó...

ad infinutum!

Mas esqueçam esses ingredientes todos, pois são absolutamente inúteis perto da antiga e famosa Pomada de Banha do Peixe Elétrico da Amazônia! Santo de casa sim, é que faz milagre! Essa sim, cinco estrelas, top de linha, um grande produto natural e de procedência 100% nacional, altamente recomendada por grandes comerciantes de moedas das redes sociais, verdadeiros “mumismatas” (com M, de MULA), para transformar moedas sujas, encardidas e muito circuladas, novamente em moedas Flor de Cunho, muito brilhantes, como se estivessem acabado de sair da “impressão” e da “pintura”!

 

Uso EXTERNO, ok?


Em Junho 2016 estive em São Paulo-SP visitando algumas Casas Numismáticas, e em uma delas, em uma galeria da Rua Barão de Itapetininga, após bater um papo com o vendedor, precisei ir ao banheiro. O que vimos? Havia, sobre a pia, uma escova de latão, bem gasta. Nem preciso dizer que saí correndo de lá.

Há diversas “receitas” de limpeza de moedas na internet, algumas tão inacreditáveis que não vou nem comentar, e estão abundantes em antigos catálogos numismáticos e até mesmo em boletins antigos de Sociedades Numismáticas SÉRIAS! Por sorte, nos últimos anos, o colecionismo de moedas tem se tornado mais exigente com o advento da tecnologia digital e o auxílio de novas ferramentas (microscópios, scanner, fotografia digital, etc...) e sinais de limpeza não tem sido mais admitidos por numismatas sérios e exigentes.

Há basicamente dois grandes problemas na limpeza: Abrasão/Fricção e Umidade. Mesmo uma delicada flanela de microfibra utilizada para limpeza de lentes de óculos deixam nas peças pequenos “hairlines”, riscos finíssimos visíveis com lupa. Além do mais, dos vários materiais que forem utilizados, no final terá que se enxaguar a moeda com água, e a de torneira contém flúor, cloro e outros minerais que prejudicam os metais, além da própria umidade.

Então, o que fazer? Minha recomendação é simples e enfática: Não faça nada! Não limpe, deixe como está. Adquira moedas Flor de Cunho pra sua coleção, não perca tempo limpando moedas circuladas ou sujas. Moedas limpas ou que demonstrem sinais de limpeza jamais irão valorizar, pelo contrário, sempre desvalorizam, sem exceções.

Você passaria palha de aço em uma moeda de ouro, correndo o risco de diminuir o seu peso e conteúdo de metal precioso? Se não, porque o faria em uma de cuproníquel, aço inox ou latão? O resultado é o mesmo.

Obviamente, a regra de “não limpar moedas” se torna inválida para aquelas peças encontradas enterradas. E para este caso não serei eu a dar a receita de limpeza, pois isto é trabalho pra arqueólogos profissionais gabaritados e, como numismata, tenho uma reputação a zelar.

Poderão sempre argumentar que ao mesmo tempo que existe o numismata exigente e criterioso, que procura peças no melhor Estado de Conservação possível, também existe o iniciante com parcos recursos e que quer somente completar o álbum e ter moedas limpinhas e brilhantes na coleção.

Oras, a numismática, além de ciência, também é um hobby, e como tal, deve ser prazeroso. Por isso mesmo, existem preçários e existem Catálogos. Por isso mesmo, existem receitas “miraculosas” para limpar moedas com Pimenta Gota e Catchup e recomendações sérias para que não sejam limpas. Por isso, há alvéolos de grampear made in china e há holders autoadesivos alemães e cápsulas de acrílico de primeiríssima linha. Por isso, há os álbuns feitos em papel e há medalheiros em acrílico ou madeira de lei com veludo. Por isso, há moedas baratas de latão e há moedas caríssimas de ouro. Então, tem pra todos os gostos e bolsos, tem pra todo mundo, e, como foi dito no começo, a moeda é sua, e você faz com a mesma o que bem entender, inclusive o “melhor” método de limpeza que já vi, que consiste em por a moeda dentro de uma Batata, e deixar esquecida ao sol durante algumas semanas.

Sinta-se à vontade para deixar o seu comentário!

 

P.S: Infelizmente o nível educacional no Brasil é um pouco baixo, e nem sempre a ironia ou o sarcasmo são compreendidos. Então, sendo claro: Não passe pomada de banha de peixe elétrico da Amazônia nas tuas moedas, muito menos as coloque dentro de batatas. É óbvio ululante que irá destruí-las. As vezes penso que nem precisava avisar isso, mas…mas… quem está nos grupos de numismática das redes sociais sabe o nível de coisas bizarras que vemos diariamente.

12 outubro 2016

Um pouco mais sobre a anomalia «Cunho Marcado», especificamente a tal “variante globo triplo”

A postagem anterior sobre a insignificante e comum anomalia chamada por leigos e ignorantes de Moeda «Globo Triplo» tem causado polêmicas em alguns grupos de WhatsApp sobre numismática, nem tanto entre numismatas e colecionadores, e sim com meros pequenos comerciantes de moedas das modalidades olímpicas. Eu os chamo de “comerciantes olímpicos” já que são verdadeiros campeões - medalha de ouro - em falar (e espalhar) bobagens sobre numismática nas redes sociais.

Minha intenção ao publicar tal matéria foi a de informar, já que são escassas no Brasil as informações sobre anomalias em nossas moedas. Temos um grupo no Facebook no qual diariamente surgem postagens dos membros que encontram anomalias das mais diversas em nossas moedas, e não sabem do que se trata. Em vários casos, não são pessoas leigas em numismática: São colecionadores sérios que precisam de informação.

Tenho também a intenção de desmistificar: Ou seja, acabar, extirpar, cortar pela raiz vários mitos que existem na numismática brasileira, criados por comerciantes com a clara intenção de supervalorizar anomalias comuns com intenção de benefício financeiro próprio à custa de incautos e muita desinformação, e que são causadores de grande vergonha no exterior.

Na postagem sobre Anomalias em Moedas, fiz questão de colocar o nome correto de cada uma delas, com as nomenclaturas utilizadas internacionalmente e devidamente traduzidas para o português, além de seus apelidos (mesmo os esdrúxulos) mais conhecidos no Brasil, e em seguida, seu nome em inglês, utilizado internacionalmente, facilitando com isto, para o interessado, pesquisar nos sites de busca mais informação que lhe convenha. Os nomes em inglês são palavras-chave para pesquisa! Grande parte da informação provém de estudos oficiais da ANS – American Numismatic Society, de seus associados, e postagens em fóruns internacionais em que participo, em língua inglesa, espanhola, russa e ucraniana, nas quais sou fluente.


 


Ao contrário do Brasil, onde raramente algum funcionário da Casa da Moeda dá alguma palestra, (geralmente repleta de “encheção de linguiça”), e as informações boas e sérias são extremamente escassas, nos EUA e em diversos países da Europa a numismatica é levada a muito sério, e Casas da Moeda nacionais, como a americana US Mint explicam com detalhes aos membros das Sociedades Nacionais de Numismática cada defeito que ocorre na confecção de moedas, e como os mesmos ocorrem. Estas entidades publicam os estudos em boletins, nos fóruns abertos ao público e nos reservados aos sócios.

A anomalia «CUNHO MARCADO», que gera o tal “globo triplo” nas moedas brasileiras e o que outros leigos chamam de “data vazada”, “data chupada”, “cunho chupado”, “cunho umbigado”, dentre outros nomes igualmente ridículos, não é uma exclusividade da Casa da Moeda do Brasil. A mesma ocorre em moedas do mundo inteiro, e temos muitos exemplos em moedas estrangeiras.



Se temos “globo triplo”, o Canadá tem “montanha extra”!


Como eu havia dito anteriormente, NUMISMÁTICA É CIÊNCIA. Como tal, qualquer afirmação contra ou a favor deverá vir devidamente embasada em provas, fatos, estudos, ilustrações e boa argumentação. Creio que cumpro com tais requisitos mínimos em minhas postagens. Tal anomalia já foi amplamente estudada e desmistificada por Sociedades Numismáticas internacionais de forte renome e por numismatas de calibre, de todo o mundo. Estudos são publicados internamente para sócios e externamente em diversas páginas, boletins, periódicos e websites, e muita coisa é facilmente encontrada na internet.

Bater o pé, espernear e simplesmente dizer “está errado” ou “não gostei” não adianta, e terá unicamente o efeito de causar boas gargalhadas entre nós. Além do mais, deixará claro e evidente que alguns comerciantes devem possuir o tal “globo triplo” em grande quantidade, e que, após minha matéria, estejam temerosos de que suas vendas venham a despencar, pois os colecionadores estarão agora devidamente informados. Por isto, a birra e o esperneio.

Portanto: Argumente! E com evidências! E nesta ciência específica, que é a numismática, sempre temos algo a aprender. Sou o tipo de pessoa que se sente temerosa com elogios, eu gosto mesmo é das críticas, principalmente as bem fundamentadas, pois nelas temos a oportunidade de nos aperfeiçoar e aprender mais. Desça a lenha sem dó, eu não vou te morder por isso, desde que tenha embasamento.

Logo, existe todo o direito de discordar do que foi postado sobre “globo triplo” (e sobre qualquer outra coisa) e eu terei o maior prazer em publicar aqui neste espaço o seu estudo e argumentação contrários à minha tese. Poderá, caso deseje, enviar para meu e-mail: bulad@outlook.com facilmente ou postar nos comentários abaixo. Repito: ESTOU ABERTO ÀS CRÍTICAS desde que bem fundamentadas. Com elas, todos nós ganhamos em conhecimento e experiência!

Portanto, fico no aguardo da contra-argumentação, embora eu duvide muito que alguma virá.

Deixe abaixo o seu comentário!